Sergio U. Dani
Essa semana o congresso brasileiro aprovou um orçamento de
mais de 2 trilhões de reais para 2014. Quase metade desse valor, cerca de 1
trilhão de reais foram destinados à rolagem da dívida pública. Com as contas
públicas sufocadas em dívidas e juros de dívidas, sem dinheiro e sem política de
Estado para saúde, educação, ciência, tecnologia e conservação ambiental, o
país perde energia vital, perde oportunidades preciosas de evoluir. Na
linguagem médica, o país sofre de catabolismo, uma condição em que o ritmo de
consumo das reservas vitais de matéria e energia excede o ritmo de sua produção
e armazenamento. A causa geralmente é o
crescimento de tumores malignos, em detrimento da saúde e sobrevivência do
organismo como um todo. O país está moribundo porque os administradores da
coisa pública brasileira gastam mal, consomem nossas reservas vitais e nos endividam,
assim como fazem os tumores malignos.
Depois da notícia da dívida pública, outra notícia grotesca:
hoje a polícia do Rio de Janeiro subiu
numa árvore para retirar, à força, um índio manifestante que resistia à prisão.
As duas notícias compõem uma alegoria do atraso do Brasil: o país não consegue
descer das árvores. As autoridades e representantes do povo regridem no esquema
da evolução ao subir em árvore para caçar os direitos do próprio povo. Uma
sucessão de macacos primitivos numa cadeia hereditária de poder transformou o
país no ‘Reino da Macacolândia’, conforme denunciado há tempos por Monteiro
Lobato. O ciclo vicioso de má-gestão e atraso enfraquece o país, e torna-o alvo
da chacota nacional e internacional.
Até quando vamos suportar essa realidade? O que estamos
fazendo ou deixando de fazer com nosso país, nosso orgulho, nosso futuro? É
preciso recuperar nosso orgulho perdido, nosso tempo perdido, nossas
oportunidades perdidas. Precisamos extirpar os tumores antes que eles nos
devorem por completo, acabar com o Reino da Macacolândia, antes que ele destrua
a nossa árvore da vida. No lugar da Macacolândia, devemos criar novos
territórios de sobrevivência, novos povos, novos governos, e devolver a nós
mesmos o nosso direito de encontrar nossos próprios caminhos. O Reino da
Macacolândia, o Brasil dos macacos primitivos será uma miragem na nossa história.
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