Por Sergio U. Dani, de Heidelberg, Alemanha.
Quando o presidente Bill Clinton visitou o Brasil pela primeira vez, desejou conhecer uma favela no Rio de Janeiro. O perspicaz sambista Jamelão observou que Clinton estava “feliz como pinto no lixo”. O mesmo tipo de encantamento parece ter tomado conta de alguns estudantes, professores, políticos e intelectuais franceses e brasileiros que foram prestigiar o ex-presidente Lula da Silva esta semana em Paris.
Lula foi a Paris para receber o título de doutor honoris causa da “Sciences Po”, uma faculdade parisiense com grande prestígio nas ciências políticas. O ânimo era de “batucada na entrada, cenas de histeria na saída”, conforme informa uma nota veiculada na internet.
Os petistas não perderam a oportunidade de enfatizar que o ex-presidente e professor universitário, Fernando Henrique Cardoso não recebeu o doutorado da Po, reservado ao petista Lula da Silva. O “nouveau Docteur Honoris Causa” Lula aproveitou para deixar sua mensagem apoteótica no arco do triunfo universitário: “Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tem diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil”, disse. Lula também aproveitou para descrever a trajetória de Dilma Roussef, desde os anos da ditadura até os anos atuais de “presidenta” da república.
Os números do Brasil pós-ditadura militar são arrebatadores. Enquanto a ditadura e a transição (José Sarney) expediram 1870 decretos-lei entre 1964 e 1988, dando uma média de 24 por ano, a democracia pós 88 expediu 2773 medidas provisórias, uma média de 120 por ano. O instrumento de exceção tem marcado a governabilidade no Estado Democrático de Direito do Brasil, com destaque para os Lulo-petistas, campeões das edições de decretos e medidas provisórias.
Os números da injustiça social e atraso do Brasil na era Lula são igualmente chocantes. A economia brasileira foi impulsionada pelo aumento de demanda mundial por produtos primários. O Brasil tornou-se o paraíso do capital devastador e predador internacional. O setor extrativo mineral altamente degradador do ambiente e consumidor de energia teve um impulso recorde, apoiado fortemente pelo governo. A concentração de renda continua em alta, milhões de brasileiros saíram da miséria para entrar na pobreza e no endividamento. Os bancos batem recordes de lucros. A corrupção aumentou, segundo estudos da ONG Transparência Internacional, sediada em Berlin.
Os impostos subiram, mas a educação e a saúde pública estão um caos, os orçamentos nunca são suficientes, ou as verbas nunca chegam ao seu destino. A queda da repetência escolar foi obtida por decreto que proíbe a repetência, não por melhoria na qualidade do ensino. Criaram-se novas universidades públicas com orçamentos ridículos, enquanto as universidades existentes estão em greve crônica por melhores salários e condições de trabalho. As faculdades particulares proliferam e faturam as economias da nova classe consumidora.
A criminalidade continua em alta, com cerca de 150 mil mortos por ano, cerca de um terço por armas de fogo. O êxodo de brasileiros de todos os níveis sócio-econômicos para o exterior bateu recorde, hoje somos 3 milhões de brasileiros residindo no exterior por falta de melhor oportunidade no Brasil.
Como se nada disso bastasse, o Brasil desde 2009 é o maior consumidor mundial de agrotóxicos: mais de um bilhão de litros de veneno foram jogados nas lavouras de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola. Isso equivale a 5 quilos de venenos consumidos por habitante em um ano.
O Lulo-petismo é apenas uma face da forma clássica de organização política no Brasil, que favorece o apoderamento do Estado Brasileiro por grupos dominantes de ignorantes, dogmáticos e prepotentes, que calham de servir aos interesses privados setoriais nacionais e internacionais, em detrimento dos interesses públicos difusos. Esse lixo fez a felicidade de estudantes, professores, políticos e intelectuais franceses e brasileiros, que compareceram em Paris essa semana para beijar a mão de Lula da Silva.
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