terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Encontro discute o perfil do imigrante brasileiro

Quarta-feira, Outubro 20, 2010
Notícia publicada por Juliana Iorio em 6:35 PM
juiorio@ig.com.br
http://brasileportugal.blogspot.com/2010/10/estudo-revela-o-perfil-do-imigrante.html


Estudo revela o perfil do imigrante brasileiro


Os resultados de um projeto realizado em conjunto pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa de Lisboa), o Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações (do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa) e o Centro de Estudos Sociais de Coimbra, foram divulgados no dia 18 de Outubro, durante o encontro científico “Migrações Internacionais: Brasileiros no Mundo", que decorreu em Portugal.


O projeto intitulado “Vagas Atlânticas: Brasileiros em Portugal”, está sendo desenvolvido desde Novembro de 2007 e deverá estar concluído em Janeiro de 2011.


Segundo a investigadora científica Beatriz Padilla, 1398 inquéritos foram aplicados, de Janeiro a Junho de 2009, numa amostra de imigrantes brasileiros, maiores de 16 anos, residentes em todo o país. O objectivo deste estudo foi, “através dos fluxos migratórios ao longo do tempo e da sua distribuição territorial, delinear as formas de integração e as perspectivas futuras do imigrante brasileiro que reside em Portugal.”


De acordo com este estudo, 84% dos imigrantes brasileiros que vivem em Portugal têm entre os 20 e 44 anos e 57% são do sexo feminino. Além disso, foi revelado que grande parte destes imigrantes são bastante qualificados, visto que mais de 50% dos entrevistados disseram possuir o segundo grau e mais de 20% o nível universitário.


Quanto a proveniência, revelou-se que a maioria dos imigrantes é oriunda do estado de Minas Gerais, seguido pelos estados de São Paulo e Paraná, respectivamente.


Se, por um lado, mais de 30% dos entrevistados disseram ter um companheiro(a) de nacionalidade brasileira, por outro lado, mais de 20% das mulheres brasileiras entrevistadas disseram ter um companheiro de nacionalidade portuguesa.


Quanto a inserção no mercado de trabalho e a mobilidade profissional dos imigrantes brasileiros em Portugal, foi salientado que, entre 2001 e 2008 Portugal apresentou um Produto Interno Bruto abaixo da média europeia. Por isso, entre 2003 e 2009 os brasileiros foram mais afectados pela realidade do desemprego no país. A maioria destes imigrantes encontra-se no sector do comércio, alojamento, alimentação, transportes e similares; e os grandes empregadores em Portugal são as pequenas empresas. Também foi enfatizada as condições precárias de trabalho destes imigrantes, chegando muitos a trabalharem mais de 46 horas semanais.


No que diz respeito à integração dos brasileiros na sociedade portuguesa foi lembrado que, a maioria (76%) entra em Portugal como turista, sem precisar de qualquer tipo de visto. Vêm e ficam, maioritariamente, em alojamentos com outros imigrantes (33,3%) ou em casas de familiares, amigos ou conhecidos (21,2%). A maior parte também revelou já ter sentido algum tipo de discriminação e 50,8% disse que os relacionamentos extra-profissionais se dão com pessoas da comunidade brasileira. 34,1% pretendem voltar para o Brasil; 30,2% ainda não sabem; e 17,2% tencionam permanecer em Portugal. Observou-se, porém, que os que pretendem voltar ao Brasil são os que mais se relacionam com a comunidade brasileira. Em contrapartida, os que tencionam ficar em Portugal procuram relacionar-se mais com a comunidade portuguesa.


Foi apresentado, de maneira específica, o caso das mulheres brasileiras que vivem em Portugal, visto que, apesar destas possuírem mais qualificações do que os homens, acabam por ter rendimentos inferiores, apresentam uma taxa de desemprego superior, permanecem mais tempo a procura de emprego, relatam mais situações de discriminação e, mesmo assim, são as que mais enviam dinheiro para o Brasil.


Beatriz Padilla chamou atenção para o fato dos dados empíricos obtidos, “ilustrarem a diversidade dos fluxos migratórios, confirmarem a “feminização” desta migração; mostrarem que a qualificação média e média alta têm ultrapassado a baixa qualificação; e que as relações transnacionais têm ganhado mais importância”.


O investigador português Jorge Malheiros também referiu a alteração dos fluxos migratórios, dizendo que estes, atualmente, têm envolvido mais idas e vindas entre Brasil e Portugal. Neste contexto, Durval Magalhães Fernandes, investigador da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, lembrou que a posição brasileira diante da crise internacional tem sido de incentivo às decisões de retorno ao Brasil.


Brasileiros pelo Mundo


Para além do caso português, este encontro reuniu vários investigadores que discutiram acerca da diáspora brasileira em todo o mundo.


Para Ana Cristina Braga Martins, investigadora da Fundação Getúlio Vargas (São Paulo), o perfil da imigração brasileira em Portugal aproxima-se muito da nos Estados Unidos. No entanto, o nicho onde se concentram muitos dos imigrantes brasileiros que estão nos Estados Unidos é o da faxina doméstica. “A faxina foi transformada num “business”, onde há, inclusive, venda deste tipo de emprego entre os brasileiros”. Portanto, explicou a investigadora, “quando um brasileiro decide retornar ao Brasil, vende as suas faxinas para outro brasileiro, dando a impressão de tratar-se de uma espécie de “solidariedade étnica””.


Foi referido que este tipo de situação também já acontece na Inglaterra.


Olivia Sheringham, da Universidade de Londres, apresentou um estudo sobre a fé dos imigrantes brasileiros nesta cidade, onde estimou que, hoje, cerca de 200 mil brasileiros vivam na capital inglesa. Os fluxos mais recentes são provenientes de Goiás, Minas Gerais e Paraná e a maioria trabalha no sector de serviços, com salários bastante baixos.


Outro estudo realizado com pessoas que emigraram de Governador Valadares e Anápolis (Goiânia) para o Reino Unido e Irlanda revelou que, mais da metade dos inquiridos tinham, inicialmente, intenção de irem para os Estados Unidos. Porém, devido às dificuldades em se obter o visto para este país, acabaram por emigrar para o Reino Unido.


Muitos daqueles que não conseguem entrar nem nos Estados Unidos, nem no Reino Unido, escolhem a Espanha como país de destino, devido às facilidades que este país apresenta para a aquisição da nacionalidade. Posteriormente, com uma nacionalidade europeia, torna-se fácil entrar tanto no Reino Unido, quanto nos Estados Unidos.


Leonardo Cavalcanti, investigador da Universidade Autónoma de Barcelona, revelou que, de 2004 a 2006 houve um aumento significativo de brasileiros na Espanha. “Existem, hoje, mais de 60% de brasileiros indocumentados na Espanha”, revelou. A fácil circulação na fronteira entre Portugal e Espanha também pode ter contribuído para o aumento dos brasileiros neste país. Estes concentram-se em Madrid e Barcelona e são provenientes de Rondónia, Goiás, Paraná, Bahia, Recife, Minas Gerais e São Paulo. “Trata-se de uma imigração eminentemente feminina, entre a faixa dos 20 e 40 anos, e que tem por objetivo recuperar um capital de classe social que estava ameaçado pelas sucessivas crises económicas no Brasil”, explicou.


Na Itália, um estudo ainda em curso, financiado pela Universidade de Pádua, sobre os latino-americanos que vivem na região do Veneto, revelou que esta região é a que mais tem recebido brasileiros nos últimos anos, havendo um aumento de 50% a partir de 2002 e até 2008. Isto pode ser explicado devido a política que esta região implementou, de incentivo ao retorno de descendentes de italianos espalhados pelo mundo.


Enquanto os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística Italiano, referentes à 2009, apontam para um total de 44 mil cidadãos brasileiros residentes na Itália, foi ressaltado que, dados não oficiais têm revelado a existência de um número muito maior. Deste modo, estima-se que existam muitos brasileiros a viverem de forma “invisível” na Itália.


A imigração brasileira no Japão também foi apresentada neste encontro como uma imigração que teve um aumento gradual a partir de 1984, mas que, em 2009 apresentou uma queda de 14%. Dados oficiais revelam que, se em 2008 havia 312.582 brasileiros no Japão, em 2009 este número caiu para 267.456.


Concentrados no centro do país, estes imigrantes trabalham, sobretudo, para o setor industrial, e vivem em verdadeira “ilhas”, onde reproduzem os símbolos da cultura brasileira. Diferentemente do que acontece em Portugal, no Japão há um grande problema de integração da comunidade imigrante, devido, sobretudo, às dificuldades com a língua.


O Cônsul Geral do Brasil em Lisboa, Renam Paes Barreto, ressaltou a importância destes estudos, visto que mais de 3 milhões de brasileiros vivem, hoje, no exterior. “É importante que tomemos o pulso da direção que os brasileiros estão tomando no mundo”, salientou. “Porque mesmo que tenha diminuído o número de brasileiros que saem hoje do Brasil em direção à Portugal, isto não impede que continuem a chegar brasileiros vindos de outras partes do mundo”, continuou. Por isso, em 2011, será aberto, na cidade de Faro (Região do Algarve) o terceiro consulado brasileiro em Portugal.

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