quarta-feira, 16 de março de 2011

Pó de marimbondo não tem cheiro

por Paulo Maurício Serrano Neves


A tragédia que abalou o Japão, causada pela magnitude do terremoto e do tusunami nos ensina duas coisas em destaque: a primeira é que o Planeta Terra tem "vida" própria e a segunda que a mais alta tecnologia e capacidade de prevenção e reação pode ser surpreendida e derrotada.

O que aconteceu no Japão foi completamente independente de ação humana.


O Planeta Terra pode ser visto como um ovo cozido: a casca do ovo é a parte onde a vida se desenvolve, a clara é "toda rachada" e a gema é uma bola de matéria em brasa.


A bola em brasa não pára quieta, está em constante revolução e procurando lugares para sair quando a pressão aumenta. e ai vaza por buracos que são chamados de vulcões e expelem gases e partículas como se uma churrasqueira explodisse.


Os movimentos da bola de brasa fazem com que os pedaços rachados da clara se movam e o que está na casca sofre as consequências.


Tentemos imaginar mil carretas carregadas de pedra de um lado e mil carretas do outro, e de repente elas trombam todas de uma vez e isto pareceria uma ponta de alfinete diante do tamanho e do peso das placas tectônicas se chocando.


E ai aconteceu, sem que os japoneses pudessem fazer qualquer coisa para se livrarem, embora tenham sido avisados sobre a formação do tsunami tão logo o terremoto ocorreu.


Muitos conseguiram escapar vivos porque saíram da zona de perigo – segunda lição – porque acreditaram na ciência e tinham confiança nas suas autoridades.


Nunca, em tempo nenhum, as autoridades japonesas disseram que o Japão estava "dentro da lei" e que a lei impediria o desastre.


O único "erro" cometido pelos japoneses foi o de morar no Japão porque são japoneses e não deveriam nem poderiam morar em outro lugar.


As tragédias ocorridas no Brasil, como as enchentes e desabamentos causados pelo excesso de chuvas, porém, tiveram causa humana, ou seja, as autoridades deixaram que as pessoas construíssem suas casas em zonas de perigo, deram "todo o apoio" para ficarem morando lá, fizeram propaganda da inclusão social e do aumento da renda, e não desenvolveram nenhuma tecnologia ou técnica para lidar com algum evento indesejado, confiantes de que Deus é brasileiro.


Deus não é brasileiro nem japones, ele é apenas o dono do Planeta e fará com o planeta o que Ele já programou.


As enchentes, nossos minúsculos tsunamis, varreram carros nas ruas, derruíram casas, mataram pessoas e arruinaram a vida de milhares outras e, assim como no Japão faltou água, comida e energia.


No Japão a anual corrida de fórmula 1 foi adiada, e no Brasil a cidade de Petrópolis festejou que o carnaval iniciou a recuperação econômica. A comparação é tosca, mas mostra a diferença de como pensam os brasileiros e os japoneses, principalmente as autoridades.


O desastre nos reatores atômicos do Japão puseram o mundo em estado de alerta porque, simplesmente, e como já havia acontecido em Chernobyl, a "poeira" atômica se espalha pelo ar, contamina os alimentos, é respirada e entra pela pele.


Por uma "coincidência dos diabos" a poeira atômica não tem cheiro de urânio, não tem gosto de urânio e nem cor de urânio, e quando as pessoas sentem que foram "empoeiradas" já é tarde demais.


A poeira atômica é tão insidiosa que as autoridades japonesas recomendaram que as pessoas ficassem em casa usando máscaras, com portas e janelas fechadas, e nem usassem o ar condicionado para evitar botar poeira para dentro de casa.


Os japoneses estão tomando iodo distribuído pelo governo para tentar diminui os efeitos da poeira atômica, e agentes públicos estão para todo lado, com os "contadores gaiguer (aceitem a grafia fonética)" para medir o grau de radioatividade e poderem tomar providências para proteger as pessoas.


No Japão eles querem saber o que está acontecendo com as pessoas em cada lugar onde estiverem morando para poderem dar proteção, e isto poderia ter o nome de "levantamento epidemiológico de envenenamento crônico por urânio".


O urânio não tem cheiro, não tem gosto e não tem cor e a poeira atômica invade o ar que as pessoas respiram, caem sobre a pele, contamina os alimentos (lembram da carne e do leite de Chernobyl?).


O ingleses, amantes de corrida de cavalos – como já foram os paracatuenses – dizem que quando o cavalo ganha uma vez é sorte, quando ganha duas é coincidência, e se ganhar três aposte no cavalo.


Por falar em cavalo de corrida, quem se lembra do Present Press, o cavalo bancado pelo Haras Kleber & Serrano, pomposo nome do haras de um cavalo só que Geraldo Serrano Neves e Paulo Kleber Ulhôa (Paulo Careca) criaram?


No Japão ninguém mexeu na caixa de marimbondos mas em Paracatu tem gente remexendo na caixa e espalhando "pó de marimbondo" sobre a cidade (*).


"Pó de marimbondo" também não tem cheiro, gosto ou cor.


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(*) N.E.: O autor refere-se ao arsênio presente nas rochas da cidade de Paracatu que é liberado na forma de poeira pela mineradora canadense Kinross Gold Corporation. O arsênio é o agente ambiental cancerígeno mais potente e persistente que se conhece, e assim como a radioatividade não tem cheiro ou gosto. Mas, ao contrário do iodo radioativo liberado pelo acidente no Japão, que perde a radioatividade em dias ou semanas, o arsênio persiste no ambiente de forma sempre tóxica por séculos e milênios e se acumula nos organismos. Em Paracatu, cidade de 100 mil habitantes do noroeste do estado de Minas Gerais, a população já está sofrendo os efeitos da intoxicação crônica por arsênio: câncer, abortos, entre outras doenças.

Um comentário:

  1. Os japoneses sabem que vivem sobre o ponto de encontro de quatro placas tectônicas, lugar de muita atividade sísmica, terremotos e tsunamis. Mesmo assim constroem e operam usinas atômicas ali. Não é por ignorância que fazem assim, pois todos sabem dos riscos. Então por que é? Na minha opinião isso é fruto de uma espécie de sado-masoquismo; a combinação da ganância de uns e a complacência de outros. Numa sociedade feudal como a japonesa, manda (e ganha) quem pode e obedece (e perde) quem tem juízo.

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