A copa do abismo

Sergio U. Dani, de Bremen,  17.05.2014

Segundo um levantamento feito pelo Sebrae, a copa do mundo de futebol 2014 vai movimentar algo em torno de R$560 milhões em micro e pequenos negócios no Brasil. Especulações desse tipo procuram identificar um suposto crescimento econômico causado pela copa do mundo, e as "oportunidades de negócio". Os números são pífios, suados e fúteis, se comparados ao enorme volume de recursos públicos desviados com facilidade pelas vias da ignorância, imperícia, incúria, lobismo, corrupção, roubalheira, expulsão de milhares de famílias de seus lares, tudo sob o pretexto desse circo, vendido como necessidade e vontade do povo. Apenas para construir ou reformar estádios, o BNDES-Banco Nacional de Desenvolvimento Social teria emprestado R$4 bilhões, com garantias dadas pelos governos estaduais. Outros gastos da copa, estimados em mais de R$20 bilhões teriam sido investidos em infra-estrutura, aeroportos e mobilidade urbana. Para alguns, esse "investimento" irá beneficiar a população, mas para a maioria, não está claro como. Quem ganha e quem perde com a copa do mundo? No momento, determinados políticos, alguns lobistas, a FIFA, um punhado de construtoras, emissoras de TV, indústrias de armas, fabricantes de bebidas e traficantes de drogas figuram entre os prováveis ganhadores. Para a massa do povo parece líquido e certo que sobrará nada, além de momentos fúteis, dívida, doença, pobreza e indignação. Por mais contraditório que possa parecer, talvez essa seja a "oportunidade da copa": a visão do abismo.