quarta-feira, 17 de julho de 2013

Caso Eike põe em xeque apoio do BNDES a megagrupos nacionais


Ruth Costas
Da BBC Brasil em Londres
Atualizado em  9 de julho, 2013 por http://inpacto.wordpress.com/

O colapso do grupo EBX, do magnata brasileiro Eike Batista, põe em xeque as políticas de apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em relação a grandes grupos nacionais.
Essa é a avaliação tanto de Aldo Musacchio, professor da Harvard Business School, quanto de Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que vêm estudando as práticas e escolhas do banco e seus efeitos sobre a economia brasileira.
"É impressionante ver como algumas das escolhas feitas pelo BNDES (no apoio ao que vem sendo chamado) de 'campeões nacionais' não estão obtendo os resultados esperados", diz Musacchio.
"E o grupo EBX é apenas o último exemplo disso. Com todos os protestos contra a corrupção e esse debate sobre os custos dos estádios (da Copa), parece problemático o fato de o banco ter arriscado bilhões nesse grupo."
O EBX - conglomerado que inclui a petrolífera OGX, a produtora de energia MPX, o estaleiro OSX, a mineradora MMX e outras empresas - era um cliente preferencial do BNDES.
Segundo informações do banco, o total de empréstimos contratados pelo grupo nos últimos anos foi de R$ 10,4 bilhões de reais. o suficiente para pagar por todos os estádios da Copa.
O valor inclui os recursos que o banco se comprometeu a emprestar a Eike, mas não desconta o que já foi pago e o que ainda não foi desembolsado. O BNDES se recusa a revelar quanto o grupo efetivamente lhe deve alegando sigilo bancário, mas diz que sua exposição a EBX é "pequena" e Eike teria oferecido "amplas garantias" aos empréstimos.
De acordo com um levantamento do banco Merryll Lynch feito com base nos balanços das empresas, porém, tal exposição seria da ordem de R$ 4,9 bilhões – o que faria do BNDES a instituição financeira mais exposta ao grupo.
Além disso, o BNDESPar, braço de participações acionárias do banco, tem pequenas participações na SIX (33,02%), MPX(10,34%), CCX (11,72%), MMX (0,66%) e OGX (0,26%), em um total de mais de R$ 500 milhões.
Fortuna
Eike era, em março de 2012, o oitavo homem mais rico do mundo segundo a agência Bloomberg, com um patrimônio estimado em US$ 34,5 bilhões (R$ 78 bilhões).
A desaceleração chinesa, a perda de vigor do PIB brasileiro e uma série de problemas do grupo EBX, porém, fizeram com que suas empresas pouco a pouco perdessem a confiança dos mercados.
Primeiro a OSX revisou suas metas de produção. A mineradora MMX teve obras paralisadas no Chile e desistiu de projetos no país. Quando a petrolífera OGX anunciou a inviabilidade comercial de seus poços da Bacia de Campos, na semana passada, as ações de algumas empresas do conglomerado caíram em queda livre e começou-se a falar em uma reestruturação total do grupo.
A fortuna de Eike encolheu para US$ 2,9 bilhões (R$ 6,5 bilhões).
"O problema do grupo EBX foi ter crescido rápido demais apostando em um cenário muito otimista", diz Wilber Colmerauer, do Emerging Markets Investments em Londres. Ou seja, Eike prometeu demais e entregou de menos.
Críticas
"É claro que não foi só o BNDES que se enganou com a EBX. Os bancos e investidores privados também acreditaram em suas promessas de grandes lucros", diz Almeida.
Para o especialista do IPEA, no entanto, a questão é que o BNDES faz empréstimos com recursos públicos e juros subsidiados e, portanto, deveria ser guiado por uma lógica diferente da usada pelo setor privado – o que não parece ser o caso.
"Poderíamos ter investido os recursos (emprestados ou usados para adquirir participações no grupo EBX) em setores que nos levassem a criar tecnologias novas e não vão se desenvolver se não tiverem incentivos", diz Almeida.
"É claro que também há riscos nessa opção, mas um risco justificado pelos potenciais benefícios em termos de aprendizado, de mudança estrutural no setor produtivo que ajudariam a diversificar a economia do país e lhe dar mais perspectivas no longo prazo. Não vejo o que ganharíamos apoiando um grande grupo como o EBX, que além de ser mais capaz de captar recursos no setor privado atua em áreas em que o Brasil já é 'forte', já tem vantagens comparativas."
Musacchio, de Harvard, concorda com o diagnóstico.
"As grandes apostas do BNDES nos últimos anos têm sido em (empresas que atuam na área de) commodities - petróleo, mineração, gás, carne congelada e etecetera", diz ele.
"Isso quer dizer: o banco está apostando em setores que são muito dependentes do crescimento do PIB chinês em um momento em que a China está desacelerando. Mas se você conversa com produtores de equipamentos médicos, de hard drive e outros (produtos de alto valor agregado) se dá conta que eles não estão recebendo tanto apoio."
Pesquisa
Musacchio conta ter feito um estudo analisando os investimentos de portfólio do BNDESPar desde 2008 e a conclusão foi de que sua performance, em termos de retornos financeiros, foi muito fraca, "bem aquém da performance da Bovespa em geral".
"Você pode argumentar que o objetivo do BNDES não é maximizar seus lucros", diz o economista. "O problema é que nossos estudos têm mostrado que eles também não têm investido ou emprestado dinheiro para as empresas que mais precisam (por não terem recursos próprios para investir ou fontes de financiamento alternativa). E supostamente, isso ocorreria porque eles estariam escolhendo empresas com boas performances e resultados (Para reduzir seus riscos)."
Já Colmerauer é menos crítico. Para ele, apesar de algumas apostas erradas, nos últimos anos o BNDES também ajudou a criar grupos nacionais que seriam "estrelas do mercado, como a Brazil Foods (resultado da fusão da Perdigão com a Sadia)."
Ele diz que os problemas da empresa de Eike de fato têm gerado grande apreensão nos mercados e agora há uma corrida para entender até que ponto os bancos públicos – e em especial o BNDES – poderiam ser atingidos por suas repercussões.
"Trata-se de um ciclo vicioso: o pessimismo em relação à economia brasileira faz com que seja mais difícil para Eike conseguir novos empréstimos e reestruturar suas empresas e ao mesmo tempo, o colapso do valor de mercado de seu grupo ajuda a ampliar o pessimismo das expectativas sobre o país."

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