Ruth Costas
Da BBC Brasil em
Londres
O colapso do grupo
EBX, do magnata brasileiro Eike Batista, põe em xeque as políticas de apoio do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em relação a
grandes grupos nacionais.
Essa é a avaliação
tanto de Aldo Musacchio, professor da Harvard Business School, quanto de
Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que
vêm estudando as práticas e escolhas do banco e seus efeitos sobre a economia
brasileira.
"É impressionante
ver como algumas das escolhas feitas pelo BNDES (no apoio ao que vem sendo
chamado) de 'campeões nacionais' não estão obtendo os resultados
esperados", diz Musacchio.
"E o grupo EBX é
apenas o último exemplo disso. Com todos os protestos contra a corrupção e esse
debate sobre os custos dos estádios (da Copa), parece problemático o fato de o
banco ter arriscado bilhões nesse grupo."
O EBX - conglomerado
que inclui a petrolífera OGX, a produtora de energia MPX, o estaleiro OSX, a
mineradora MMX e outras empresas - era um cliente preferencial do BNDES.
Segundo informações do
banco, o total de empréstimos contratados pelo grupo nos últimos anos foi de R$
10,4 bilhões de reais. o suficiente para pagar por todos os estádios da Copa.
O valor inclui os
recursos que o banco se comprometeu a emprestar a Eike, mas não desconta o que já foi pago e o que ainda não foi desembolsado. O
BNDES se recusa a revelar quanto o grupo efetivamente lhe deve alegando sigilo
bancário, mas diz que sua exposição a EBX é "pequena" e Eike teria oferecido "amplas garantias" aos empréstimos.
De acordo com um
levantamento do banco Merryll Lynch feito com base nos balanços das empresas,
porém, tal exposição seria da ordem de R$ 4,9 bilhões – o que faria do BNDES a
instituição financeira mais exposta ao grupo.
Além disso, o
BNDESPar, braço de participações acionárias do banco, tem pequenas
participações na SIX (33,02%), MPX(10,34%), CCX (11,72%), MMX (0,66%) e OGX
(0,26%), em um total de mais de R$ 500 milhões.
Fortuna
Eike era, em março de 2012, o oitavo homem mais rico do mundo segundo a agência
Bloomberg, com um patrimônio estimado em US$ 34,5 bilhões (R$ 78 bilhões).
A desaceleração
chinesa, a perda de vigor do PIB brasileiro e uma série de problemas do grupo
EBX, porém, fizeram com que suas empresas pouco a pouco perdessem a confiança
dos mercados.
Primeiro a OSX revisou
suas metas de produção. A mineradora MMX teve obras paralisadas no Chile e
desistiu de projetos no país. Quando a petrolífera OGX anunciou a inviabilidade
comercial de seus poços da Bacia de Campos, na semana passada, as ações de
algumas empresas do conglomerado caíram em queda livre e começou-se a falar em
uma reestruturação total do grupo.
A fortuna de Eike encolheu para US$ 2,9 bilhões (R$ 6,5 bilhões).
"O problema do
grupo EBX foi ter crescido rápido demais apostando em um cenário muito
otimista", diz Wilber Colmerauer, do Emerging Markets Investments em
Londres. Ou seja, Eike prometeu demais e entregou de menos.
Críticas
"É claro que não
foi só o BNDES que se enganou com a EBX. Os bancos e investidores privados
também acreditaram em suas promessas de grandes lucros", diz Almeida.
Para o especialista do
IPEA, no entanto, a questão é que o BNDES faz empréstimos com recursos públicos
e juros subsidiados e, portanto, deveria ser guiado por uma lógica diferente da
usada pelo setor privado – o que não parece ser o caso.
"Poderíamos ter investido
os recursos (emprestados ou usados para adquirir participações no grupo EBX) em
setores que nos levassem a criar tecnologias novas e não vão se desenvolver se
não tiverem incentivos", diz Almeida.
"É claro que
também há riscos nessa opção, mas um risco justificado pelos potenciais
benefícios em termos de aprendizado, de mudança estrutural no setor produtivo
que ajudariam a diversificar a economia do país e lhe dar mais perspectivas no
longo prazo. Não vejo o que ganharíamos apoiando um grande grupo como o EBX,
que além de ser mais capaz de captar recursos no setor privado atua em áreas em
que o Brasil já é 'forte', já tem vantagens comparativas."
Musacchio, de Harvard,
concorda com o diagnóstico.
"As grandes
apostas do BNDES nos últimos anos têm sido em (empresas que atuam na área de)
commodities - petróleo, mineração, gás, carne congelada e etecetera", diz
ele.
"Isso quer dizer:
o banco está apostando em setores que são muito dependentes do crescimento do
PIB chinês em um momento em que a China está desacelerando. Mas se você
conversa com produtores de equipamentos médicos, de hard drive e outros
(produtos de alto valor agregado) se dá conta que eles não estão recebendo
tanto apoio."
Pesquisa
Musacchio conta ter
feito um estudo analisando os investimentos de portfólio do BNDESPar desde 2008
e a conclusão foi de que sua performance, em termos de retornos financeiros,
foi muito fraca, "bem aquém da performance da Bovespa em geral".
"Você pode
argumentar que o objetivo do BNDES não é maximizar seus lucros", diz o
economista. "O problema é que nossos estudos têm mostrado que eles também
não têm investido ou emprestado dinheiro para as empresas que mais precisam
(por não terem recursos próprios para investir ou fontes de financiamento
alternativa). E supostamente, isso ocorreria porque eles estariam escolhendo
empresas com boas performances e resultados (Para reduzir seus riscos)."
Já Colmerauer é menos
crítico. Para ele, apesar de algumas apostas erradas, nos últimos anos o BNDES
também ajudou a criar grupos nacionais que seriam "estrelas do mercado,
como a Brazil Foods (resultado da fusão da Perdigão com a Sadia)."
Ele diz que os
problemas da empresa de Eike de fato têm gerado grande apreensão nos
mercados e agora há uma corrida para entender até que ponto os bancos públicos
– e em especial o BNDES – poderiam ser atingidos por suas repercussões.
"Trata-se de um
ciclo vicioso: o pessimismo em relação à economia brasileira faz com que seja
mais difícil para Eike conseguir novos empréstimos e
reestruturar suas empresas e ao mesmo tempo, o colapso do valor de mercado de
seu grupo ajuda a ampliar o pessimismo das expectativas sobre o país."
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