quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A queda do Reino da Macacolândia



Sergio U. Dani

Essa semana o congresso brasileiro aprovou um orçamento de mais de 2 trilhões de reais para 2014. Quase metade desse valor, cerca de 1 trilhão de reais foram destinados à rolagem da dívida pública. Com as contas públicas sufocadas em dívidas e juros de dívidas, sem dinheiro e sem política de Estado para saúde, educação, ciência, tecnologia e conservação ambiental, o país perde energia vital, perde oportunidades preciosas de evoluir. Na linguagem médica, o país sofre de catabolismo, uma condição em que o ritmo de consumo das reservas vitais de matéria e energia excede o ritmo de sua produção e armazenamento.  A causa geralmente é o crescimento de tumores malignos, em detrimento da saúde e sobrevivência do organismo como um todo. O país está moribundo porque os administradores da coisa pública brasileira gastam mal, consomem nossas reservas vitais e nos endividam, assim como fazem os tumores malignos.

Depois da notícia da dívida pública, outra notícia grotesca: hoje  a polícia do Rio de Janeiro subiu numa árvore para retirar, à força, um índio manifestante que resistia à prisão. As duas notícias compõem uma alegoria do atraso do Brasil: o país não consegue descer das árvores. As autoridades e representantes do povo regridem no esquema da evolução ao subir em árvore para caçar os direitos do próprio povo. Uma sucessão de macacos primitivos numa cadeia hereditária de poder transformou o país no ‘Reino da Macacolândia’, conforme denunciado há tempos por Monteiro Lobato. O ciclo vicioso de má-gestão e atraso enfraquece o país, e torna-o alvo da chacota nacional e internacional.

Até quando vamos suportar essa realidade? O que estamos fazendo ou deixando de fazer com nosso país, nosso orgulho, nosso futuro? É preciso recuperar nosso orgulho perdido, nosso tempo perdido, nossas oportunidades perdidas. Precisamos extirpar os tumores antes que eles nos devorem por completo, acabar com o Reino da Macacolândia, antes que ele destrua a nossa árvore da vida. No lugar da Macacolândia, devemos criar novos territórios de sobrevivência, novos povos, novos governos, e devolver a nós mesmos o nosso direito de encontrar nossos próprios caminhos. O Reino da Macacolândia, o Brasil dos macacos primitivos será uma miragem na nossa história.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Gravíssimos absurdos: novas emendas no Código de Mineração

Enquanto a sociedade está ocupada em seus afazeres de final de ano, e mesmo distraída com as confusões em torno da prisão dos mensaleiros... as quadrilhas atacam no Congresso Nacional.

O projeto do novo Código de Mineração está prevendo que a criação de qualquer área protegida dependerá de concordância prévia do Departamento de Produção Mineral (DNPM) !!!!!!!

Ao mesmo tempo, tentam mudar a Lei das Unidades de Conservação !!!!!! 

Vejam abaixo o que querem incluir:

Art. 2º. A Lei nº 9.985, de 2000, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 22-B:

“Art. 22-B. Fica vedada a criação de unidades de conservação da natureza em áreas:
I – antropizadas com estrutura produtiva consolidada;
II – com presença de bens de valor histórico, cultural e arquitetônico para a população;
III – identificadas, pelo órgão competente, como de favorabilidade geológica, considerando, para tanto, a concentração de minas na região e o conhecimento geológico, geoquímico e geofísico da área;
IV – com recursos hídricos estratégicos para a geração de energia elétrica."

Conclusão: se ninguém fizer nada, nunca mais criaremos um parque ou uma reserva natural no Brasil.

O QUE PROPÕEM É UM ABSURDO. A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO VISA JUSTAMENTE PROTEGER ÁREAS DE RELEVANTE VALOR SÓCIO-AMBIENTAL E PAISAGÍSTICO CONTRA AS AMEAÇAS DA DESTRUIÇÃO. O ENVOLVIMENTO DO DNPM É UM ABSURDO, NÃO FAZ SENTIDO ALGUM PARA A LEI DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E ATÉ ANULA A LEI.

O CORRETO É CRIAR INSTRUMENTOS PARA UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO PRÉVIA OU EX ANTE E PODER SOBERANO DE DECISÃO, POR PARTE DAS POPULAÇÕES ATINGIDAS E DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS, SOBRE A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, COMO CONDIÇÃO PARA INÍCIO DE QUALQUER PROCESSO DE LICENCIAMENTO DE MINERAÇÃO. 

AS POPULAÇÕES ATINGIDAS E OS ÓRGÃOS AMBIENTAIS DEVERIAM TER PODER DE EMBARGO DE PROCESSOS DE LICENCIAMENTO, A QUALQUER TEMPO, VISANDO A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. 

TAMBÉM É PRECISO GARANTIR A CRIAÇÃO DE GEO-PARQUES EM ÁREAS DE OCORRÊNCIA MINERAL E FORMAÇÕES GEOLÓGICA DE IMPORTÂNCIA PARA A BIOTA, PARA A PRODUÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA E PARA A CONSERVAÇÃO DA PAISAGEM. 

Um plano de sobrevivência dos povos brasileiros.

LD Dr.med. D.Sc. Sergio U. Dani*

*Instituto Medawar de Pesquisa Médica e Ambiental, Fundação Acangau, Paracatu, Opará.

O mundo passa por um processo acelerado de degradação dos recursos naturais que tem levado ao acirramento de conflitos, à violência e até ao genocídio. 

O processo revela-se especialmente grave no Brasil, onde a ausência de políticas de Estado, a má-gestão da coisa pública, as ingerências externas e a corrupção têm facilitado enormemente a destruição das bases de sustentação dos ecossistemas e comprometido a sobrevivência dos nossos povos.

Ninguém mais duvida que uma solução para esses graves problemas deve ser encontrada e posta em prática.

Proponho aqui um plano que poderá criar as bases para a sobrevivência dos povos brasileiros, no presente e no futuro.

O plano é simples. Sua base é o respeito aos sistemas de solos-florestas-águas-povos dos territórios naturais brasileiros. 

A água deve servir de base para o planejamento porque sem água não há vida, não há saúde, não há desenvolvimento sócio-econômico e cultural, não há paz. A produção de água depende da conservação dos solos e das florestas.

A título de referência, adota-se o mapa de bacias hidrográficas do Brasil preparado pelo CNRH-Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Figura 1).

Figura 1 │ Mapa de organização natural do território brasileiro segundo as principais bacias hidrográficas (fonte: CNRH-Conselho Nacional de Recursos Hídricos). Nomes sugeridos para os territórios componentes do novo pacto (em sentido norte-sul, oeste-leste): Amazônia (pode ser desdobrado em vários territórios, segundo as sub-bacias hidrográficas), Tocantins, Gurupi (Território da bacia do Atlântico NE Ocidental), Piauí (o estado do Piauí corresponde à bacia do Parnaíba), Jaguaribe (Território da bacia do Atlântico NE Oriental), Opará (Território da bacia do São Francisco), Jequitinhonha (Território da bacia do Atlântico Leste), Pantanal (Território da porção brasileira da bacia do Paraguai), Paraná, Doce (Território da bacia do Atlântico Sudeste), Iguape, Uruguai e Camacuã (Território da bacia do Atlântico Sul).


Uma vez estabelecidas essas bases territoriais naturais, serão tomadas as seguintes providências:

1. Reconhecer a autonomia e a soberania dos territórios naturais brasileiros e seus povos. O processo de reconhecimento será feito ao nível nacional, pelo atual Estado brasileiro que deixará de existir para o bem geral de todos, e internacional, pelos demais Países, Estados e Nações, e pela ONU-Organização das Nações Unidas; 

2. Decentralizar a administração pública fracassada atual, devolvendo o poder e a responsabilidade aos governos autônomos e soberanos dos territórios naturais;

3. Promover a livre união desses territórios, povos e governos autônomos e soberanos em torno de um novo parlamento supranacional com a responsabilidade de fomentar ciência, educação, saúde, justiça e desenvolvimento sócio-ambiental, bem como reforçar os instrumentos de defesa pública, como o Ministério Público (Ministério Público dos Territórios Naturais do Brasil, MP-TNB) e um Exército organizado como pacto dos territórios (Organização de Defesa dos Territórios Naturais do Brasil, OD-TNB).

4. Interromper o fluxo de exportação das riquezas dos territórios às custas da permanência da degradação e da pobreza nesses territórios.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Uma cicatriz venenosa na Amazônia

Em questão de dias, uma megamineradora canadense pode ser autorizada a construir uma enorme mina de ouro tóxica no Xingu, que poderá poluir a Amazônia! As autoridades no Pará querem arrecadar recursos a curto prazo e por isso podem aprovar o projeto a qualquer momento – mas o IBAMA pode agir se pressionado por um forte apelo da população contra essa louca corrida do ouro. Inclua seu apoio, antes que seja tarde demais: 

http://www.avaaz.org/po/uma_mina_de_ouro_na_amazonia_full/?bkCPhfb&v=31522

Entre em contato com as autoridades constituídas para defender o povo e o território brasileiros de mais um geocídio e mais um genocídio:


Presidente da República do Brasil
Dilma Rousseff
061 3411-1200
061 3411-1201
Tuíte para @dilmabr

Ministra do Meio Ambiente
Izabella Teixeira
061 2028-1058
061 2028-1289
Tuíte para @mmeioambiente

Presidente do IBAMA
Volney Zanardi Jr.
061 3316-1001 até 1003 (Sede PP)
Tuíte para  @brasil_IBAMA

domingo, 13 de outubro de 2013

A campanha dos médicos brasileiros



Corrupção, descaso da saúde e da educação, truculência contra o meio ambiente e os povos indígenas, violência e criminalidade de todo tipo estouram sempre nas mãos dos médicos. São eles os que sentem as mazelas sociais em primeira mão, a eles recorrem as vítimas em primeiro lugar. 


A imagem do bom médico é a do profissional dedicado a diminuir o sofrimento das pessoas, o conselheiro, o estudioso, o responsável. 


Não por acaso, os médicos sempre foram uma força política, candidatos ideais para as campanhas eleitorais. 


A nova campanha dos médicos que corre pela internet tem o objetivo de tirar os votos da Dilma na próxima eleição. Para muitos, soa a proselitismo político. De qualquer forma, é uma mensagem da indignação de um exército de bandeira branca capaz de combater o exército da bandeira vermelha, pelo exercício do voto.    


Leia também:

http://brasileirosparaomundo.blogspot.de/2013/07/falta-de-medico-e-curso-de-medicina-de.html

sábado, 21 de setembro de 2013

Nova geração de transgênicos, resistentes ao agrotóxico 2,4-D, pode deixar lavouras brasileiras mais tóxicas

O Brasil pode ser o terceiro a aprovar plantio de sementes resistentes ao agrotóxico 2,4-D. Especialistas alertam que o possível aval da CTNBio à soja e ao milho aumente o uso do herbicida altamente tóxico.

No Brasil, 90% dos agrotóxicos são utilizados em oito commodities agrícolas
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) julga nesta quinta-feira (19/09) o pedido de aprovação de quatro modalidades de sementes transgênicas resistentes ao agrotóxico 2,4-D. São dois tipos de soja e dois tipos de milho.
O Brasil seria o terceiro a aprovar o plantio dessas variedades. Até o momento, o Canadá é o único que cultiva esse tipo de milho. Já essa versão de soja transgênica é aprovada, além do Canadá, também no Japão – mas a permissão no país asiático se restringe à plantação em campos isolados.
O pedido de liberação foi feito pela americana Dow AgroSciences, que também tem sede no Brasil e é uma das seis gigantes da indústria de sementes e agrotóxicos do mundo.
Segundo Leonardo Melgarejo, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio e avaliador de uma das sementes solicitadas pela Dow, existem “riscos alarmantes” na aprovação das sementes. “Nós estamos passando agora para a possibilidade de aplicação via aérea de produtos de alta periculosidade”, afirma.
O 2,4-D é um dos componentes do chamado Agente Laranja, utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. Ele é o terceiro agrotóxico mais utilizado no Brasil (5%), depois do glifosato (29%) e do óleo mineral (6%). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regulamenta e avalia a toxicidade de agrotóxicos, o 2,4-D é classificado com o nível de toxicidade mais elevado.
Efeito reverso

A aprovação das sementes resistente ao 2,4-D pode levar a um efeito contrário: especialistas alertam que o uso do agrotóxico pode aumentar. Em artigo publicado na revista científicaEnvironmental Science Europe, Chuck Benbrook, da Universidade do Estado de Washington, prevê um aumento de 50% no uso do 2.4-D nos Estados Unidos caso as novas sementes sejam aprovadas neste país.
O Centro de Segurança Alimentar dos Estados Unidos prevê que o uso do herbicida isoxaflutole aumentará quatro vezes devido à aprovação nos EUA de uma modalidade de milho resistente a este herbicida.
No Brasil, Victor Pelaez, diretor do Observatório da Indústria de Agrotóxicos e professor na Universidade Federal do Paraná, lembra que, quando a primeira soja transgênica foi aprovada, umas das possíveis vantagens apresentadas seria a diminuição do uso do agrotóxico glifosato. Oito anos depois, o glifosato continua sendo o agrotóxico mais utilizado no Brasil. Pesquisas do Observatório apontam que, após a utilização da soja transgênica no Rio Grande do Sul, ainda de maneira ilegal, entre 2000 e 2004, o consumo do glifosato aumentou 162%.
Esse consumo levou ao desenvolvimento de pragas resistentes e, por consequência, à necessidade de sementes tolerantes a herbicidas mais tóxicos. “Do ponto de vista tecnológico, é um retrocesso. Seja porque se tem que utilizar mais quantidade do glifosato que é menos tóxico, seja porque tem que se usar também produtos mais tóxicos. Isso era a crônica da morte anunciada. Todo mundo da área sabia disso”, analisa Pelaez.
Segundo a Dow, não há uma relação entre o uso elevado dos agrotóxicos e o uso de transgênicos. “As taxas de uso de herbicidas está já crescendo devido à resistência ao glifosato, e irá crescer ainda mais sem a nova tecnologia para ajudar a lidar com essa situação”, afirma Garry Hilman, porta-voz da empresa. Segundo ele, as novas sementes vão permitir que as ervas daninhas não desenvolvam resistência a um tipo específico de agrotóxico.
Ao ser questionado sobre a relutância de alguns países à aprovação das sementes tolerantes ao 2,4-D, a empresa afirma que se deve aos trâmites burocráticos dos países. “Nós estamos confiantes que os legisladores nas principais nações produtoras irão reconhecer os diversos benefícios desta nova tecnologia tanto para os produtores agrícolas como para o meio ambiente.”
Para a Secretaria Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), as novas sementes não resolverão o problema do que tem se chamado de “falha tecnológica”. “Essas variedades, assim como as que as antecederam, chamadas de ‘melhoradas’, termo que não utilizo pois apenas foram selecionadas em laboratório, não melhoraram em nada a agricultura, pois causou uma grande redução na base genética das culturas alimentares”, afirma o MPA em declaração à DW Brasil. 
Passado sombrio

Operação “Mão de Fazendeiro” despejou cerca de 45 milhões de litros de Agente Laranja no Vietnã
O 2,4-D ficou mundialmente conhecido por compor o Agente Laranja, utilizado para desfolhar as florestas e expor vietnamitas ao ataque dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. Milhões de pessoas morreram devido à operação conhecida como “Mão de fazendeiro” e, 30 anos depois, a substância química ainda é encontrado na terra e água do país, levando a defeitos genéticos em várias gerações.
A Dow AgroSciences, junto com três outras empresas do ramo de biotecnologia, montou a Força Tarefa 2,4-D, com o objetivo de divulgar informações sobre o herbicida. Elas afirmam que a vinculação com o Agente Laranja é um equívoco, pois os efeitos letais deste químico seriam causados pela dioxina, um resíduo da mistura dos componentes 2,4-D e 2,4,5-T da fórmula do Agente Laranja.
No entanto, especialistas apontam que a toxicidade do 2,4-D independe de sua vinculação com a dioxina. Em nome da Academia Americana de Medicina e Meio Ambiente, Robin A. Bernhoft afirma que “o 2,4-D é considerado a causa de todos os cânceres e defeitos genéticos nos filhos de ex-combatentes americanos no Vietnã e de vietnamitas causados pelo Agente Laranja”.
A questão reside também na qualidade do 2,4-D utilizado. Benbrook aponta o risco de que maior parte do 2,4-D usado no Brasil seja importado da China, com altos níveis de dioxina. “Eu concordo que o 2,4-D da Dow é muito mais limpo do que o dos 1970, mas quem pode garantir que os agricultores brasileiros irão comprar o 2,4-D mais caro e mais limpo?”, questiona.
Melgarejo aponta para o mesmo problema, devido à utilização da forma de 2,4-D conhecida como éster butílico, considerada mais perigosa por formar mini-gotículas que dispersam facilmente no meio ambiente.
“Nesse caso, o produto dança no ar, ele se desloca por grandes áreas e pode afetar muitas outras culturas. É uma formulação mais barata, porque mais perigosa”, esclarece. “As empresas afirmam que não vão vender no Brasil. Mas nada impede que entre por contrabando”, alerta Melgarejo.
Os riscos do 2,4-D-éster-butílico levaram a Autoridade Australiana para Medicina Veterinária e Agrotóxicos (APVMA) a cancelar, em agosto, a autorização do uso dessa modalidade de herbicida na Austrália alegando “riscos ambientais inaceitáveis”. 
Aprovação

Aproximadamente 90% da soja plantada no Brasil é transgênica, segundo CIB
O Brasil já aprovou 56 organismos geneticamente modificados. Das 31 plantas, contando com sementes e algodão, 25 possuem alteração para resistir a agrotóxicos e doze são tolerantes a mais de um herbicida ou inseticida. A tolerância, em grande maioria, é aos agrotóxicos glifosato e glufosinato de amônico, ambos de baixa toxicidade.
As duas modalidades de milho e de soja foram apresentadas pela empresa Dow no ano de 2012 e 2013 para liberação comercial. Quando concedida, a liberação permite a venda das sementes transgênicas para plantação, seu consumo direto em alimentos e derivados, assim como utilização em rações animais.
Caso as sementes resistentes ao 2,4-D sejam aprovadas pela CTNBio, o processo é encaminhado ao Conselho Nacional de Segurança, que pode deferir ou indeferir a decisão da Comissão. 
Matéria de Joana Brandão Tavares na Agência Deutsche Welle, DW, publicada peloEcoDebate, 20/09/2013

domingo, 15 de setembro de 2013

Energia solar alemã sufoca a hidráulica suíça

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/30961/energia%20solar%20alema%20sufoca%20a%20hidraulica%20suica.shtml

Com redução do preço da eletricidade na Europa, companhias resistem a investir em infraestrutura.

A energia hidráulica é a principal fonte de eletricidade nos países alpinos. Contudo, apesar de sua importância na mudança para alternativas renováveis na Europa, na Áustria e na Suíça estão suspensos alguns projetos de construção de infraestrutura hidrelétrica. Nos dias de bons ventos do verão alemão, quando milhões de painéis absorvem o Sol e as turbinas eólicas funcionam a toda velocidade, a rede elétrica não tem como absorver o excesso de energia. Nos domingos, em especial, a produção supera a demanda.
O resultado é a diminuição das tarifas. Inclusive aparecem números negativos, o que significa que os clientes recebem pela eletricidade. O mercado energético da Europa está liberalizado. O que acontece na Alemanha afeta seus vizinhos e as centrais hidrelétricas suíças não podem competir nessas condições. O auge da energia hidráulica suíça é histórica. Esta fonte, que cobre 55% da demanda, atravessa uma crise de rentabilidade porque as tarifas caíram 20% em relação ao ano anterior.

Nessas condições, as grandes produtoras de eletricidade da Suíça – Alpiq, Axpo, BKW e Repower – não estão dispostas a investir para otimizar e aumentar sua infraestrutura. Na verdade, a Repower anunciou uma redução de seus investimentos em 35% para os próximos dez a 15 anos. Andreas Meyer, responsável de comunicação da Alpiq, disse à IPS que os subsídios maciços para as energias renováveis desestabilizaram o mercado e puseram em dúvida a rentabilidade das centrais térmicas e hidrelétricas e também bloquearam os futuros investimentos. Atualmente, a Alpiq tem um programa de desinvestimento e teme que continue a deterioração das tarifas.

Leia mais: Radiação de Fukushima está 18 vezes acima dos níveis previstos

Entretanto, o desenvolvimento da energia hidráulica na Suíça é motivo de controvérsia. O governo estima que será entre quatro e cinco terawatts por hora, mas o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) afirma que será apenas 1,5 terawatts. Em todo caso, seu potencial é muito baixo. Entretanto, a Suíça subsidia as pequenas centrais com capacidade inferior a dez megawatts, independente de sua eficiência e do dano ecológico que causam. Graças às subvenções, os pequenos projetos hidrelétricos se tornaram muito rentáveis.

No entanto, o WWF reclama o fim dos subsídios. “É uma loucura total construir novas centrais em águas virgens”, afirmou à IPS Christoph Bonzi, do WWF Suíça. Atualmente, 95% das fontes de água do país são usadas para gerar eletricidade. Por uma vez, conservacionistas e principais fornecedores de energia afirmam o mesmo sobre o sistema de subsídios da Suíça, que favorece os pequenos projetos hidrelétricos. “Por acaso, não é absurdo os subsídios para as novas energias renováveis gerarem uma situação em que até outras tecnologias sistêmicas necessitem de apoio”, questionou Werner Steinmann, porta-voz da Repower.

O auge da energia eólica e da solar na Europa aumentou a demanda de armazenamento de eletricidade, já que ambas são fontes flutuantes. Alemanha, Áustria e Suíça concordaram, no ano passado, em aumentar a capacidade das usinas hidrelétricas de armazenamento por bombeamento em um esforço conjunto. Várias dessas centrais estão em construção nos Alpes suíços. Porém, ainda não se sabe se os investimentos valerão a pena. Algumas companhias suíças de energia não se opõem a todos os subsídios para as energias renováveis.

O maior acionista da Repower é o cantão dos Grisones, cujo conselheiro-chefe, Mario Cavigelli, rompeu um tabu ao pedir subsídios para a eletricidade gerada em grandes hidrelétricas. Também pediu a redução dos fundos para as pequenas iniciativas. Contudo, trata-se de uma pedido discutido dentro do setor. A encarregada de imprensa da Axpo, Daniela Biedermann, disse que não se pode resolver os problemas dos subsídios agregando novos. “Devemos discutir como implantar as novas energias renováveis em um sistema voltado para o mercado”, afirmou.

A Associação Suíça para a Gestão da Água (SWV), que representa o setor, reclama que os subsídios à energia hidrelétrica não se limitem às pequenas centrais. A organização propõe que seja usado o critério da eficiência, um aspecto ignorado pelo atual sistema. A SWV quer que sejam promovidos os projetos que geram mais eletricidade por dólar subsidiado. Entretanto, os conservacionistas não estão muito contentes com as novas demandas corporativas. Em nome do “interesse nacional” as empresas tentam explorar inclusive reservas de água protegidas.

O WWF prefere melhorar a eficiência em lugar de usar até a última gota para produzir eletricidade. Do outro lado da fronteira, as empresas da Áustria enfrentam problemas semelhantes. Atualmente, cerca de 60% do fornecimento elétrico são cobertos com a energia hidráulica local. O setor tratou de aumentar sua capacidade em sete terawatts por hora até 2020.

“Seguramente, não podemos alcançar nossas expectativas”, disse Ernst Brandstetter, porta-voz da Oesterreichs Energie, que representa os interesses da indústria elétrica austríaca. Segundo ele, atualmente o realista é prever apenas quatro terawatts/hora até 2025. “Infelizmente, muitos projetos estão parados. A indústria tem cinco anos de atraso em relação aos seus planos de desenvolvimento”, acrescentou. Brandstetter explicou que, no tocante às hidrelétricas, a situação atual do mercado se caracteriza por uma grave insegurança.

“Muitos projetos previstos já não têm justificativa econômica”, ressaltou Brandstetter. A Oesterreichs Energie não pede subsídios, mas quer um ambiente mais propício para os investimentos. “O mais preocupante é que até os projetos de armazenamento de energia serão rentáveis. Junto com as redes elétricas, as centrais hidrelétricas de armazenamento por bombeamento são os facilitadores mais importantes para um futuro com fontes renováveis”, insistiu.

O porta-voz pede que se deixe de distorcer o mercado, fazendo com que o europeu esteja pautado por normas que permitam a todas as fontes de energia competirem em igualdade de condições. O setor hidrelétrico da Áustria e da Suíça depende muito do que acontece na União Europeia. Atualmente estão em consultas as Diretrizes de Ajuda à Energia e ao Meio Ambiente 2014-2020. Na próxima primavera boreal será preciso ver se as centrais hidrelétricas alpinas se beneficiam ou não das novas pautas.