domingo, 22 de dezembro de 2013

Dar-se ao luxo é para quem pode

LD Dr.med. DSc. Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha


Circula na internet a história de Raphael, um jovem alemão da classe média que consegue sobreviver com sua família em Berlin com pouco ou nenhum dinheiro, utilizando os resíduos da economia alemã. A história provocou uma enxurrada de comentários de todo tipo, dos elogiosos até os agressivos.  Os ‘opositores’ argumentam que é ‘fácil’ sobreviver na Alemanha com pouco dinheiro, especialmente sendo da classe média abastada alemã. Sim, o alemão é da classe média. Sim, ele pode dar-se ao luxo de sobreviver do rico lixo alemão. A maioria dos alemães de classe média não conseguiria, nem poderia dar-se a esse luxo. Romper a barreira do consumo e da concorrência é para poucos. Sim, a Alemanha é um país do luxo. Por isso mesmo atrai milhões de imigrantes. Aqui eles podem dar-se ao luxo de sobreviver com dignidade, mesmo sendo pobres. Sim, vereador alemão pode dar-se ao luxo de trabalhar de graça, e contribuinte alemão pode dar-se ao luxo de pagar impostos. Sim, tudo isso é possível porque a Alemanha pode dar-se ao luxo de gerar riqueza explorando, com a disciplina e a tenacidade alemãs, os recursos humanos e naturais do planeta. Setenta por cento da geração de riqueza da Alemanha é feita fora do território alemão, graças à atuação global de gigantescas empresas alemãs como Siemens, Volkswagen, Krupp, Mannesmann, Bosch, Merck, Mercedes, BASF, SAP e centenas ou milhares de empresas menores. Sim, a Alemanha ainda pode dar-se ao luxo de pagar salários e benefícios altos, enquanto os países periféricos como o Brasil dão-se ao luxo de sustentar o estilo de vida alemão, fornecendo matérias-primas baratas, às custas da destruição do seu meio-ambiente, pobreza, doença, deseducação, enganação e endividamento dos povos brasileiros. Sim, o Brasil é um país fantástico. Talvez por isso mais de três milhões de brasileiros dão-se ao luxo de viver fora do Brasil, e alguns dão-se ao luxo de sonhar em voltar algum dia. Muitos dão-se ao luxo extremo de enviar dinheiro para o Brasil para sustentar famílias, negócios e projetos sociais. O volume de dinheiro que essas 'formiguinhas' brasileiras enviam todo o ano para o Brasil é estimado em sete bilhões de dólares, valor equivalente a quase a metade do valor da produção anual de soja do país, ou cerca de um quarto do orçamento federal para a saúde, ou mais de um terço do orçamento federal para a educação, de incerto repasse. O que é dinheiro? Instrumento ou meio, ou mercadoria ou fim? Há quem se dê ao luxo de deixar-se dominar pelo dinheiro, quem acredite que 'dinheiro é tudo', 'tempo é dinheiro' ou 'dinheiro move o mundo'. Poucos dão-se ao luxo de dominar o dinheiro. Quem domina o dinheiro? Talvez a resposta você possa encontrar lendo os livros da senhora Margrit Kennedy (e.g., 'Occupy Money'), uma alemã que pode dar-se ao luxo de pensar.

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