Eike Batista acumula fortuna pessoal semeando destruição sócio-ambiental, apoderando-se de jazidas de ouro e petróleo em promiscuidade com políticos e governos autoritários
(Pout-pourri de informações disponíveis na Wikipedia e principais jornais do Brasil e do mundo)
Eike Batista no Charlie Rose show, sobre o futuro da democracia americana: ‘Vejo um congestionamento. Eu acredito em democracia, mas deixe-me dizer algo que poucas pessoas percebem: no Brasil, nosso presidente (Lula) pode implementar medidas de emergência por seis meses.’
Eike Fuhrken Batista é um dos sete filhos do empresário Eliezer Batista, ministro das Minas e Energia no Governo João Goulart e, ao longo de boa parte da ditadura militar, presidente da Companhia Vale do Rio Doce, então uma empresa estatal. A mãe nasceu na Alemanha e Eike Batista viveu em sua companhia naquele país, dos 12 aos 23 anos.
Eike Batista foi acusado de usar informações privilegiadas através do cargo do pai na direção da Companhia Vale do Rio Doce, quando começou a negociar com minas de ouro. Em 1983, tinha uma mina de ouro mecanizada na Amazônia. No início dos anos 90, quando já possuía considerável quantidade de minas, a mineradora canadense Treasure Valley sediada em Toronto interessou-se pelo seu negócio, dando a Batista uma participação de 11% da empresa em troca das minas no Brasil. Batista tornou-se o principal acionista e presidente da empresa e o nome foi trocado para TVX. A preferência pelo xis na sigla da empresa tem uma explicação dada pelo próprio Batista: ‘O X representa a multiplicação, acelera a criação da riqueza’.
Entre 1991 e 1996, o valor da empresa canadense mais que triplicou. Em 1999, a TVX acumulava 300 toneladas de ouro em reservas líquidas, produzia 20 toneladas anuais, contava com mais de 2 mil empregados e começava a atuar na Grécia, destruindo a comunidade de Stratoniki, perseguindo e reprimindo os opositores da mineração na Grécia e no Brasil com a ajuda dos governos e das polícias locais.
Os mercados de ações canadenses ajudaram Eike Batista a financiar algumas de suas operações no Brasil e no exterior. Conseguiu levantar investimentos de mais de 1 bilhão de dólares canadenses para a TVX. Entretanto, as ações envolvendo a mina de ouro na Grécia levaram o governo grego a cassar as licenças ambientais e fizeram o valor das ações da TVX despencar para 5.7 dólares canadenses em 2001, o que aparentemente determinou seu afastamento da direção da empresa. ‘As coisas nem sempre andam como você espera’, disse Batista em uma entrevista.
Em junho de 2002, a TVX fundiu-se com outras duas mineradoras canadenses, a Echo Bay (14%) e a Kinross Gold Corporation (40,3%) e passou a se chamar Kinross Gold Corporation. Nesta operação, a TVX entrou com 875 milhões de dólares canadenses em ações, participando com 31,1% na Kinross [1,2].
Com a operação de fusão, a nova Kinross adquiriu fôlego para fazer a expansão da mina Morro do Ouro, o maior depósito de ouro e de veneno do Brasil, localizado na cidade de Paracatu, estado de Minas Gerais. Em 2009, o valor in situ das reservas de ouro excedia US$ 10 bilhões e a quantidade de arsênio excede 1 milhão de toneladas. A quantidade de arsênio que será liberada durante a exploração de ouro a céu aberto nesta mina nos próximos 30 anos equivale a veneno suficiente para causar doenças e matar 10 vezes a população de 7 bilhões de seres humanos do planeta Terra e poluir o ambiente antrópico por séculos e milênios [3]. Arsênio é reconhecido mundialmente como o pior e mais persistente poluente ambiental, causador das doenças que mais matam no mundo, incluindo câncer, diabetes, doenças neurológicas e cardiovasculares, entre outras.
A aquisição de 100% do controle da mina de Paracatu pela Kinross completou-se em 2006, com a compra da participação da mineradora Rio Tinto por US$ 280 milhões. Em 2009, o geólogo Elpídio Reis afirmou que a produção anual da mina estava em 7,5 toneladas de ouro (a Kinross declara 5 toneladas) e, com a fase de expansão iniciada naquele ano, passará a 35 toneladas (a Kinross declara 17 toneladas). [4]
Estudos da Fundação Acangaú e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica da Suécia indicam que os custos de remediação da poluição causada pela liberação de arsênio pelas atividades de mineração são maiores que todo o valor do ouro minerado [5,6]. Como o ouro saído da mina não volta para pagar a remediação, milhões de pessoas inocentes já estão pagando a conta com suas próprias vidas. Apenas um alto grau de corrupção, ou o acúmulo de poder e riqueza nas mãos de um punhado de pessoas, à custa da doença, da miséria e da ignorância de milhões de pessoas, pode explicar porque os órgãos dos governos municipal, estadual e federal licenciaram tal genocídio.
Operação ‘Toque de Midas’
Especialistas nos setores petrolífero e minerador desconfiaram do rápido e vertiginoso enriquecimento de Eike, levando em conta o fácil êxito dos negócios em setores demasiado competitivos. A Polícia Federal então deflagrou uma investigação sobre Eike Batista, a qual recebeu ironicamente o nome "Toque de Midas", alusão ao rei da mitologia grega que transformava em ouro tudo aquilo que tocava. Segundo a revista Carta Capital, o anúncio da operação da PF causou às empresas de Eike, nos dias subseqüentes, uma perda de valor em bolsa de 5,3 bilhões de reais.
A PF investiga possível financiamento ilícito de campanhas políticas que visasse facilidade na concessão de licitações em determinadas áreas de exploração mineral, especialmente ouro e petróleo. Também se cogita uma possível fraude no processo licitatório de concessão da Estrada de Ferro do Amapá (EFA), operada pela MMX, outra empresa de Eike Batista. [7]
Descobriu-se que Eike desembolsa considerável quantia em doações para candidatos e partidos políticos, de vários estados. Nas eleições de 2006, contribuiu com 4,5 milhões de reais. Conforme Delcídio Amaral, senador pelo Mato Grosso do Sul que recebeu 400 mil reais para sua campanha naquelas eleições, as doações foram da pessoa física, pois ‘ele [Eike] separa as coisas’.
Eike Batista foi o maior doador da campanha de Waldez Góes, governador reeleito do Amapá, com 200 mil reais [8], e também o maior doador pessoa física para a campanha de reeleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva, com um milhão de reais. [9]
Quando teve problemas na Bolívia ao tentar implantar uma siderúrgica naquele país, mas sendo expulsa por Evo Morales, contratou José Dirceu como consultor para intermediar as negociações. Foi também o maior patrocinador privado do filme Lula, o filho do Brasil, de Luiz Carlos Barreto, doando um milhão de reais para o projeto. [10]
Em janeiro de 2010, os principais jornais do Brasil anunciaram que a empresa OGX de Eike Batista acabara de encontrar na bacia de Campos mais uma reserva de petróleo em águas rasas (150 metros de lâmina d'água). A empresa OGX já detém 100% dos direitos de exploração de outros 4 poços já encontrados nas mesmas condições. As jazidas em águas rasas (que têm menor custo de exploração) estão sendo ‘repassadas’ à OGX com 100% de direitos de exploração, sendo que a PETROBRAS é hoje a terceira do mundo e possui tecnologia e recursos para a exploração.
Quem decide os negócios da PETROBRAS é uma equipe de petistas liderada por Dilma Vana Rousseff (presidente do conselho de administração da empresa) e Guido Mantega. Tudo indica que Eike Batista e agentes da ‘PT-BRAS’ são testas-de-ferro a serviço de um capital minerador genocida, organizadores dos maiores golpes financeiros jamais vistos na história do Brasil.
Eike Batista negocia minas da MMX com empresas chinesas
(Reportagem do Valor Econômico - 01/04/2009. Por Vera Saavedra Durão, do Rio)
O empresário Eike Batista está disposto a se manter no posto de homem mais rico do Brasil. Em abril de 2009, Eike Batista anunciou que está colocando à venda para siderúrgicas chinesas um pacote de ativos das MMX Sudeste e LLX, controladas da holding EBX.
'Estamos envolvidos numa atividade de fusão e aquisição. Vamos repetir o que fizemos com os ativos no Minas-Rio e no Amapá', disse Batista, referindo-se à negociação bem-sucedida com a Anglo American, em entrevista para divulgar o resultado da MMX Mineração e Metálicos em 2008.
O negócio da China pode ser fechado ainda neste ano. ‘As conversas com os chineses já duram algum tempo’, disse Batista. O governo chinês colocou R$ 500 bilhões à disposição de empresas chinesas para a compra de ativos de minério, petróleo e alimentos. E foram bater à porta de Eike. Ele acha que a China não está focando ativos australianos, pois já foram rechaçados em algumas tentativas de compra. ‘Existe essa fome dos chineses por recursos e o sonho deles é comprar ativos no Brasil, onde a propriedade desses ativos pode ser 100% de capital estrangeiro.’
O resultado da MMX no quarto trimestre ficou aquém das expectativas dos analistas, tanto no resultado operacional, quanto financeiro. A empresa fechou o trimestre com um prejuízo de R$ 507 milhões. A receita bruta, de R$ 174 milhões, ficou 31% abaixo do faturamento do terceiro trimestre. O resultado financeiro foi negativo em R$ 515,5 milhões, decorrente principalmente de um aumento na provisão para ‘hedge’ de R$ 259,5 milhões e da variação cambial passiva de 210,6 milhões.
Rodrigo Ferraz, analista da Brascan Corretora, destaca que esses fatores não representam saída de caixa, mas apontam para uma piora da situação financeira da companhia de alto endividamento.
No quarto trimestre, a dívida bruta total (sem obrigações com aquisições) da MMX alcançou R$ 1,3 bilhão, dos quais R$ 542,5 milhões vencem no curto prazo. Ferraz alerta para o fato de que a MMX teria que tomar um financiamento adicional para quitar esse débito, já que seu caixa no fim do ano soma R$ 292 milhões, cobrindo apenas 54% desta dívida de curto prazo, fato agravado pelo lucro operacional (lajida) negativo de R$ 14 milhões. No ano, o prejuízo da MMX alcançou R$ 848 milhões, fortemente impactado pelo fraco desempenho financeiro.
Eike Batista informou durante a entrevista que está trabalhando para sanear financeiramente a empresa. Tanto que comunicou ontem ao mercado que vai fazer uma emissão privada de debêntures simples perpétuas da MMX em valores em reais equivalente a US$ 200 milhões, que serão subscritas por ele, controlador da empresa, a partir de hoje. As debêntures não renderão juros, mas serão corrigidas pelo IGP-M. A emissão foi aprovada pelo conselho da mineradora.
Além disso, a Centennial Asset Mining Fund, sociedade limitada com sede em Nevada, nos Estados Unidos, detida integralmente por Batista, anunciou que acertou firmar compromisso com o Banco Itaú Europa, que irá vender para a Centennial notas estruturadas vinculadas ao desempenho das ações ordinárias da MMX no valor total de até US$ 20 milhões. O valor de pagamento das notas refletirá o desempenho das ações da empresa.
O comunicado ao mercado informa ainda que a MMX já nomeou um banco para assessorá-la na venda de seus ativos. A transação pode incluir a venda total ou parcial dos próprios ativos ou de ações ordinárias de emissão a empresa. A mineradora já está reestruturando seus ativos de minério e discutindo a alienação de parte da LLX para o futuro comprador. A idéia, segundo destacou Batista, é vender as minas com o porto do Sudeste, localizado em Itaguaí (RJ). ‘Estamos negociando com os futuros compradores em relação ao tamanho do projeto [das minas] e discutindo com esses pretendentes o percentual da LLX a ser vendido.’ Batista admite vender até uns 50% da LLX, com ele se mantendo como um parceiro dos chineses no porto do Sudeste. Esta é a mesma fórmula que usou para negociar com a Anglo American.
O empresário não descarta vender 100% das minas do Sudeste e uma participação na logística. Para ele, o importante é fazer a conexão (mina e porto). ‘Sem o porto não tem sistema de mineração. O minerador fica preso ao dono da logística.’
O valor total dessa futura transação é difícil de calcular, por conta da parte da LLX. Mas as minas do Sistema Sudeste, localizadas em Minas Gerais - AVG, Minerminas e Bom Sucesso, que compõem a unidade Serra Azul - são avaliadas em R$ 530,6 milhões em relatório da própria MMX.
Minérios: para o Brasil, só ficam os buracos
Por Flávia Lílian, 26 de outubro de 2009
A Folha de São Paulo anunciou a apresentação do projeto do governo que altera o Código de Mineração nacional. A matéria diz que o Governo pretende atacar com mais intensidade a questão da manutenção de reservas inexploradas pelas companhias que obtém direitos de pesquisa e de lavra e a cobrança de bônus de concessão sobre áreas de grande potencial mineral. Informa também que pouco se alteraria na cobrança de royalties sobre o minério explorado nas novas minas e nas já existentes.
Esta questão é de enorme importância, e uma das maiores injustiças econômicas em matéria de exploração de nossas riquezas naturais. E, também, algo que está intimamente relacionado com a especulação sobre direitos de pesquisa e lavra, como se verá adiante.
Você sabe quanto reverte para o país do que se autoriza a pesquisar e, em seguida, extrair do subsolo brasileiro? Quase nada. A Lei 8.001 estabelece que os royalties sobre o minério serão de 3% para o manganês, potássio e sal, 2% para o ferro e outros minerais, 1% para o ouro e 0,2% para pedras preciosas e metais nobres (prata, platina, etc). Isto, depois de descontados os custos do transporte, seguros e impostos pagos na comercialização, o que desestimula a industrialização e reforça a tradição colonialista de venda do minério em bruto. Ou seja, menos emprego, menos renda e venda direta de nossa riqueza natural ao estrangeiro.
Todos – notem bem, todos – os royalties pagos pela extração de ferro, manganês e qualquer outro minério no Brasil no ano de 2008, somaram R$ 880 milhões, menos do que só o município de Campos (RJ) recebeu pelo petróleo. Como só a exportação primária de ferro brasileiro alcançou US$ 16 bilhões em 2008 (ou cerca de R$ 30 bilhões) pode-se afirmar que, com grande otimismo, não ficou para o povo brasileiro nem 1% de toda a riqueza tirada do solo desta mãe gentil.
Ninguém se espante, por isso, com o fato dos chineses estarem comprando os direitos de mineração do grupo MMX, do empresário Eike Batista. Afinal, eles sabem que o Brasil é ‘um negócio da China’, não é? E a denúncia publicada há dias pela revista Carta Capital, de que o onipresente Daniel Dantas estaria recebendo concessões minerárias às centenas, através da empresa Global Mine Exploration, com o confessado interesse de especular com o direito de exploração? Nem denúncia é, aliás, pois está no site da empresa que ela negocia ‘seus projetos de exploração mineral sobre autorizações de pesquisa concedidas pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM)’ para ‘alienar ou realizar joint ventures com estes ativos de commodities minerais no mercado nacional e global’.
Estão levando nossa riqueza e, literalmente, deixando buracos no Brasil. Todos sabem que a mineração é um das atividades mais danosas ao meio-ambiente. O panorama de devastação das áreas exploradas é aterrador. Arrastam-se, no Legislativo, projetos compensatórios melancólicos, como o do deputado Fernando Aparecido de Oliveira, que propõe que os mineradores paguem 2% de sua receita para um fundo de recuperação de áreas degradadas. Ridículo, pois nem 100% da receita das mineradoras seria suficiente para a remediação sócio-ambiental.
Eike Batista acumula bilhões sem gerar caixa real nem empregos
Reportagem de Heberth Xavier e Zulmira Furbino - Estado de Minas, publicada em 21/03/2010
Eike Batista está na moda. Folgadamente, é o brasileiro mais rico e um dos 10 mais endinheirados do planeta. Mas, aos poucos, o próprio mercado financeiro começa a agir com ceticismo diante de um jeito de amealhar fortuna com negócios e projetos não construídos, sem geração de caixa real nem tantos empregos, muito menos com divisas para a nação na proporção de outros magnatas.
Como definir Eike? Empresário? Investidor? Especulador? Financista? Empreendedor? ‘Empresário, no sentido tradicional que conhecemos, não é’, diz um analista do setor de mineração que trabalha numa empresa de consultoria paulista. Basta comparar as atividades de suas com as outras corporações estrangeiras e brasileiras cujos comandantes também aparecem no ranking.
Sua holding, a EBX, congrega a MMX (de mineração), a LLX (logística), MPX (energia) e OGX (petróleo), entre outras, acumulando patrimônio estimado em US$ 27 bilhões, segundo o último levantamento da revista americana Forbes. Já vendeu seguros na Alemanha, explorou petróleo na Amazônia, produziu cosméticos, construiu termelétricas, envolveu-se com mineração, tendo sido até expulso da Bolívia. Mas seu forte mesmo é mexer com coisas que não são palpáveis. ‘O Eike está fazendo fortuna com projetos não construídos, sem geração de caixa real. Está vendendo sonhos, projetos e papéis’, diz um empresário do segmento da mineração que pediu para não ser identificado.
Bill Gates, por exemplo, o segundo do ranking dos bilionários, criou a Microsoft, marca forte que emprega quase 90 mil pessoas em todo o mundo, está presente em 105 países e catapulta receitas acima de US$ 50 bilhões todo ano. Carlos Slim, o bilionário da América Móvil, que tem 125 milhões de clientes, forra um caixa superior a US$ 20 bilhões anualmente. Entre os brasileiros, também há diferença de constituir renda e riqueza. Antônio Ermírio de Moraes (do conglomerado Votorantim), Abílio Diniz (rede Pão de Açúcar) e grupos como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Vale comprovam algumas dessas diferenças.
De bom gosto com mulheres (foi marido da modelo e atriz Luma de Oliveira) e esportista (é campeão mundial de off-shore, uma corrida em lanchas de alta velocidade), a visão edulcorada de um homem venturoso que carrega saiu arranhada ao longo da semana passada, numa operação não bem sucedida de oferta inicial de ações (IPO) na Bovespa. Ele levantou ‘tão somente’ 30% dos quase R$ 10 bi que esperava captar com a estreia da OSX, empresa do ramo de construção naval. ‘O problema é que a OSX é um projeto, mas queriam vendê-la a preço de concorrentes estrangeiras já estabelecidas’, resume um gestor de ações. A empresa tem, até agora, apenas um navio e uma dívida de R$ 750 milhões. ‘Fica até difícil falar do preço das ações, porque a OSX ainda não produz nada’, continua o gestor.
A frieza atual no mercado contrasta com a euforia inicial de até há não mais que um mês, depois que a Forbes divulgou sua tradicional lista dos mais ricos do mundo (e, pela primeira vez, pôs um brasileiro no top ten). Muda o olhar sobre esse mineiro de Governador Valadares, nascido há 53 anos. Ele é inteligente? Não há porque duvidar. Brilhante? Para ganhar dinheiro, sem dúvida. É ousado? Sim, ao menos no mundo das finanças. E é bom que Eike esteja no topo? Bem, aí a resposta imediata nunca será a melhor. O homem que multiplicou sua fortuna por quatro em dois anos (de US$ 6,6 bilhões, em 2008, para os atuais US$ 27 bilhões) diz mais sobre nossa economia do que muito tratado acadêmico. ‘Sua fortuna se constrói não com base na receita de suas empresas, mas principalmente na compra e venda de papéis’, garante o gestor.
O geólogo e investidor em mineração João Carlos Cavalcanti é ex-sócio de Eike. Diz não ter se surpreendido com o resultado ruim do IPO da OSX. ‘Me associei a ele num projeto no Norte da Bahia’, afirma. ‘Depois de três anos, percebi que o projeto não andava. Acabei perdendo a área, mas o Eike Batista ainda me deve R$ 8 milhões.’
O Estado de Minas tentou conversar com Eike quinta-feira e sexta-feira, dia da estréia de sua empresa na Bovespa. A assessoria do investidor alegou que a agenda de Eike estava tomada, mas sublinhou o investimento ‘superior a US$ 1 bilhão’ feito pela MMX, empresa de mineração do grupo no estado. Destacou também as minas na região de Serra Azul, com capacidade anual de produção de 8,7 milhões de toneladas de minério de ferro.
Em Conceição do Mato Dentro, cidade da Região Central de Minas, é difícil falar em Eike Batista e não receber de volta impropérios. A população se queixa da devastação ecológica feita no local, famoso pelas cachoeiras. A vereadora Flávia Magalhães reclama da operação realizada entre Eike e a Anglo American. No começo de 2008, a multinacional de capital britânico comprou 49% do Sistema Minas-Rio, controlado na época pela MMX. Em agosto daquele ano, tornou-se proprietária de 100% do projeto. Pagou, no total, US$ 5,5 bilhões – US$ 3 bilhões teriam ido diretamente para o bolso de Eike. Não há, pelas informações conhecidas, ilegalidade na operação de compra e venda. O problema é outro. ‘Vendeu um projeto para a Anglo e deixou uma confusão enorme para trás’, lamenta Magalhães.
(O empreendimento, orquestrado pelo consórcio Eike Batista / Aécio Neves / Anglo American, pretende devastar além da Serra do Espinhaço, reserva da Biosfera, boa parte do Estado de Minas Gerais, seu povo e sua cultura, com geração de grande lucro para pouquíssimos e já conta com duas ações na justiça, dos Ministérios Público Federal e Estadual).
Riqueza vai, pobreza fica. Como um todo, um péssimo negócio. Mas para o BNDES, facilitar a transferência da riqueza dos pobres do Brasil para os ricos do país e do mundo e deixar aqui a pobreza é, ‘como um todo’, um bom negócio
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha, 3 de Janeiro de 2010
A tese de que o Estado Brasileiro possui um lado nocivo que transfere as riquezas do país para os mais ricos e deixa aqui a pobreza foi apoiada por mais um exemplo. O BNDES-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que deveria ser um instrumento de desenvolvimento social, no sentido de corrigir as iniquidades sociais, levantou suspeitas sobre a sua habilidade de beneficiar os mais ricos, que são a minoria, e prejudicar os pobres e desamparados, que são a maioria. A reportagem de Samantha Lima, da Folha de São Paulo, mostra que o BNDES vendeu ações a preço de banana para canadenses, considerados um dos povos mais ricos do mundo, e para Eike Batista, o brasileiro mais rico.
No currículo dos negócios de Eike Batista, inclui-se a mina de ouro da cidade de Paracatu, Minas Gerais, que o especulador do setor mineral inaugurou em 1987 e depois vendeu para sócios estrangeiros. Além do ouro brasileiro que remetem para seus países, os mineradores estrangeiros ingleses e canadenses já liberaram 300 mil toneladas de arsênio que deixaram no Brasil. O arsênio é um veneno poderoso, que mata agudamente ou causa câncer, diabetes, doenças vasculares, demência e outras doenças, cronicamente, agravando a pobreza crônica do país.
Hoje a mina de ouro pertence totalmente ao grupo canadense, Kinross Gold Corporation que opera um verdadeiro genocídio na cidade de Paracatu. Um punhado de autoridades do governo brasileiro autorizou a expansão da mina em 2009, o que irá resultar na liberação de mais um milhão de toneladas de arsênio para o ar, os solos e a água da população que fica. O ouro vai, mas o veneno fica. Assim também a riqueza sai das mãos pobres do Brasil, passa pelas mãos de agentes como BNDES e Eike Batista e vai para ricas mãos estrangeiras, e a pobreza continua no Brasil.
Para o BNDES, operações bancárias como a relatada pela jornalista Samantha Lima ‘devem ser analisadas como um todo’. Como um todo, o BNDES considera ‘muito boa’ a rentabilidade obtida com negócios desse tipo, a correção e o ágio. Resta saber se o que o BNDES considera ‘um todo’ é apenas a rentabilidade, a correção e o ágio.
Parece que o BNDES, assim como outros agentes do Estado brasileiro, aprenderam a expurgar a pobreza evidente gerada pelas operações econômico-financeiras. A pobreza desagradável do povo brasileiro não combina com os escritórios e planilhas agradáveis forjadas em Brasília ou no Rio de Janeiro.
Leia a seguir a reportagem de Samantha Lima, da Folha de São Paulo:
BNDES vendeu ações a Eike Batista por valor menor que o de mercado
Samantha Lima, da Folha de São Paulo, no Rio
Em um ano em que teve fraco desempenho com ações, o BNDES conseguiu arrumar espaço para uma operação com Eike Batista que representou ganho de cerca de R$ 67 milhões para o empresário.
Em 28 de agosto, o BNDES sacou de sua carteira 41,6 milhões de ações da empresa de logística LLX para vendê-las ao empresário (fundador e controlador da companhia) e a um fundo de pensão canadense, também acionista da empresa. A venda das ações foi concluída a preço cerca de 48% abaixo da média de mercado. Na época, as ações da LLX valiam cerca de R$ 5. Mas Eike pagou ao banco em torno de R$ 2,30 por ação.
Considerado o preço médio dos 60 pregões anteriores (uma prática de mercado em negociações do tipo), de R$ 4,44, Eike e o fundo canadense pagaram 52% do que elas valiam.
A possibilidade de comprar ações a esse preço foi aberta para Eike em 16 de março, e todas as operações realizadas foram comunicadas ao mercado. Nessa data, o BNDES entrou como sócio de sua empresa, aportando R$ 150 milhões na compra de 83 milhões de ações, a R$ 1,80. Esse preço representa um ágio de 27% sobre as cotações dos 60 pregões anteriores. Além de pagar mais do que o valor médio, o BNDES deu a Eike a chance de comprar as ações de sua empresa por R$ 1,80 nos 36 meses seguintes. Mas o BNDES não tinha o direito de vender as ações a esse valor caso o preço na Bolsa caísse.
Diante da melhora do desempenho das ações da LLX na Bolsa, Eike decidiu exercer esse direito apenas cinco meses depois. Conforme previsto no contrato, pagou juros de 15% ao ano e correção monetária, além de ágio de 20% por ter feito a compra antes de seis meses de contrato. O valor final deve ter chegado, portanto, a R$ 2,30 – o BNDES não confirmou. Dessa forma, Eike desembolsou cerca de R$ 72 milhões por algo que já valia pelo menos R$ 139 milhões.
O fundo de pensão canadense, também beneficiado pelo acordo, pagou R$ 24 milhões por 10 milhões de ações. Se tivesse negociado as ações pelo valor médio das últimas cotações, pagaria R$ 46,2 milhões – economizou, portanto, R$ 22,2 milhões.
O BNDES não perdeu dinheiro com a operação, já que vendeu as ações pelo preço de compra, com juros, correção e ágio. Mas deixou de lucrar com sua valorização na Bolsa. No dia 30, as ações da LLX foram negociadas a R$ 10,11. A fatia do banco na empresa, hoje de 4,25%, vale R$ 272 milhões. Quando virou sócio de Eike, essa fatia do BNDES valia R$ 53 milhões.
Questionado sobre por que precisou dar uma opção de compra ao empresário para fechar o negócio – já que ter o banco como sócio pode ser considerada, por si só, uma vantagem –, o BNDES informou que ‘a operação deve ser analisada como um todo’, e não ater-se à venda de ações, e que considerou ‘muito boa’ a rentabilidade obtida com o negócio, a correção e o ágio. O empresário Eike Batista não comentou.
Referências e notas:
1. http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&refer=canada&sid=ajJ1WnBRyAJI acessado em 23 de outubro de 2010.
2. Kinross, TVX and Echo Bay in gold merger deal. Monday, June 10, 2002, CBC News. http://www.cbc.ca/money/story/2002/06/10/goldmerger_020610.html
3. www.alertaparacatu.blogspot.com
4. Elpídio Reis, em um artigo publicado em 03.01.2009 no site www.geologo.com.br intitulado ‘A saga de Morro do Ouro, parte 1’.
5. Ação Civil Pública proposta pela Fundação Acangaú em Paracatu-MG, Brasil, em 2009.
6. Does remediation save lives? - on the cost of cleaning up arsenic-contaminated sites in Sweden. Forslund J, Samakovlis E, Johansson MV, Barregard L., Environmental Economics, National Institute of Economic Research, Stockholm, Sweden. Sci Total Environ. 2010 Jul 15;408(16):3085-91. Epub 2010 May 1.
7. Empresa de Eike Batista é suspeita de fraude em licitação e empresário vira alvo de Operação da PF - O Globo Online. Página visitada em 27 de outubro de 2009.
8. Folha Online - Brasil - Investigação da PF aproxima ainda mais o empresário Eike Batista ao governo do Amapá - 15/07/2008. Página visitada em 27 de outubro de 2009.
9. Folha Online - Brasil - Setor bancário deu maior doação à campanha de Lula - 29/11/2006. Página visitada em 27 de outubro de 2009.
10. ISTOÉ Dinheiro - Revista Semanal de Negócio, Economia, Finanças e E-Commerce. Página visitada em 27 de outubro de 2009.
11. Folha Online - Brasil - Saiba mais sobre o empresário Eike Batista - 11/07/2008. Página visitada em 27 de outubro de 2009.
12. http://veja.abril.com.br/noticia/economia/ogx-anuncia-presenca-hidrocarbonetos-poco-campos-
13. Eike Batista: Rich Man. Richest Man? On his way to becoming the richest man in the world, the Brazilian businessman got his start in gold at age 23. Reportagem do Charlie Rose Show. http://www.businessweek.com/magazine/content/10_08/b4167014984348.htm
No original: ‘From the outside, I see political gridlock. You have to start thinking out of the box. I believe in democracy, but let me tell you something that few people realize: In Brazil, our president can implement emergency measures for six months.’
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